quarta-feira, 21 de agosto de 2013

MARCO AURÉLIO REVELA DESÂNIMO COM O FUTEBOL

Ex-técnico de América, Atlético e Cruzeiro fala do anos marcantes no futebol mineiro, da conquista da Copa do Brasil de 2000 e por que decidiu se afastar do mundo da bola

 
Depois de deixar o América, em 2010, Marco Aurélio decidiu dar um tempo na carreira de treinador  (Euler Júnior/EM/DAPress)
Depois de deixar o América, em 2010, Marco Aurélio decidiu dar um tempo na carreira de treinador

Raros são os treinadores que em apenas dois anos de atividade conseguem guiar uma equipe a um título de expressão nacional. A conquista da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, em 2000, entretanto, não fez com que o então inexperiente Marco Aurélio pudesse continuar seu projeto à frente do clube. Mas, o destino insólito abriu portas à carreira e durante todo o decênio seguinte ele encontrou espaço para implantar sua filosofia de trabalho em diferentes times do Brasil e até no Japão.

Há três anos, Marco Aurélio viveu no América sua última experiência no futebol profissional. Hoje, o ex-treinador vive com a esposa Eliane em Campinas, onde se radicou desde os tempos de jogador da Ponte Preta, nos anos 70, e encara o esporte apenas como um hobby. “Ainda jogo futebol com meus amigos toda semana. O que eu quero agora é viver bem e aproveitar o que o meu trabalho de 30 anos.
 
 
Apesar da vida tranquila no interior de São Paulo, Marco Aurélio não descarta o retorno à profissão de técnico, mas não por qualquer proposta. Ele conta que recebeu algumas ofertas depois de deixar o América e as recusou por acreditar que a vida longe dos gramados valia mais a pena.

“O futebol, hoje, está muito diferente. Não é apenas a sua capacidade que vai te levar aonde você quer chegar. Tem muita gente interferindo o tempo todo. Você tem que estar amparado por empresários, pelo grupo e tem que ter muito jogo de cintura também”, avalia.

Diante dos impasses e dos percalços vividos em alguns clubes, Marco Aurélio se sentiu desencorajado a continuar na carreira de treinador. A demissão no América por um desentendimento com a diretoria culminou na frustração com o futebol. A reportagem chegou a entrar em contato algumas vezes com o ex-treinador durante o ano passado, mas ele se recusou a falar sobre o afastamento do mundo da bola.

“Cheguei ao América pensando em fazer um grande trabalho, mas não consegui dar continuidade ao meu projeto. Estava tudo errado no clube. Não tínhamos atletas e eles valorizavam muito os jogadores mais velhos. Gostavam de um rachão, mas na hora que a gente cruzava com um time grande nunca dava certo. Falei aos dirigentes minha opinião sobre o que estava acontecendo e no outro dia me mandaram embora. Aquilo me desanimou muito, aí acabei me afastando do futebol”, revela.
Marco Aurélio comemora a conquista da Copa do Brasil de 2000, o primeiro título como treinador (Jorge Gontijo/EM/DAPress)
Marco Aurélio comemora a conquista da Copa do Brasil de 2000, o primeiro título como treinador

Lembranças da Toca da Raposa


Embora não seja unanimidade entre os torcedores cruzeirenses, foi no clube celeste que Marco Aurélio conquistou todos os títulos da carreira de treinador. Além da Copa do Brasil de 2000, ele ganhou a Copa Sul-Minas e o Supercampeonato Mineiro, ambos em sua segunda passagem pela Toca da Raposa, em 2002. Dois anos depois, ele ainda voltou ao clube, mas sem o mesmo sucesso das temporadas anteriores.

As melhores lembranças são, definitivamente, da conquista nacional. Naquela época, a Copa do Brasil era disputada por todas as grandes equipes do país, inclusive as que jogavam a Libertadores, como ocorre em 2013. O treinador ainda recorda detalhes da virada emocionante sobre o São Paulo, na final, no Mineirão.

“O que mais me marcou foram dois lances na grande decisão. O primeiro, com certeza, foi o gol de falta do Geovanni, que nos levou à virada aos 44 minutos do segundo tempo. E depois, no último lance do jogo, o Cléber ainda evitou um gol do São Paulo em cima da linha. Aquilo foi para qualquer um enfartar”.

Marco Aurélio foi à decisão sabendo que, após a partida, seu posto seria ocupado pelo já consagrado Luiz Felipe Scolari. Nem mesmo a situação desconfortável trouxe aborrecimento ao treinador. “Eu sabia que não ia ficar no Cruzeiro, mas sempre fui muito tranquilo em relação a isso. O Felipão foi um dos que mais que incentivaram naquela final. Também tive apoio da diretoria, disseram que a porta estaria aberta. Até hoje só tenho que agradecer ao Cruzeiro por tudo que o clube me proporcionou. Nunca tive nenhuma mágoa”.
Questionado sobre o potencial do atual elenco do Cruzeiro para conquistar o pentacampeonato, Marco Aurélio preferiu ter cautela a arriscar um palpite otimista. Mesmo assim, ele confessa a torcida pelo sucesso do time de Marcelo Oliveira, a quem credita o bom desempenho na temporada. “O Cruzeiro não tem um grande time, não tem superjogadores. É uma equipe normal, que está jogando certinho graças ao treinador. Acho que ainda precisa se fortalecer”.
Marco Aurélio foi um dos treinadores do Atlético no ano do rebaixamento à Série B (Paulo Figueiras/EM/ DAPress)
Marco Aurélio foi um dos treinadores do Atlético no ano do rebaixamento à Série B
 
Cheques sem fundo no Galo

Apesar da forte ligação com Campinas, Marco Aurélio é mineiro de Muriaé e passou boa parte da vida como treinador em Belo Horizonte. Ao todo, foram cinco passagens por clubes da capital mineira. No Galo, ele vivenciou o momento mais turbulento da história do clube, no ano do rebaixamento à Série B.

Ele esteve à frente do Atlético em 17 partidas, mas, com apenas seis vitórias, acabou substituído por Lori Sandri. Marco Aurélio recorda as dificuldades enfrentadas pelo clube, principalmente fora de campo. Segundo o ex-treinador, os problemas financeiros atormentavam todo o elenco atleticano, impedindo o bom desempenho dentro das quatro linhas.

“Quando cheguei ao Atlético vi que a situação já estava difícil, o clube estava abandonado. Conseguimos motivar os jogadores por um momento, mas a situação financeira piorou. Os atletas ganhavam uma folha de cheque e, quando iam sacar, não tinha o dinheiro. Internamente, era visível que as coisas não iam acontecer. Não adiantava eu ficar lá sem poder fazer nada”.

O Atlético de 2013 vive uma situação completamente oposta à da época de Marco Aurélio e, sem ressentimentos, o ex-técnico prevê ainda mais conquistas para o clube alvinegro. “Hoje, o Atlético é um clube muito diferente. Quando passar essa ressaca da conquista da Libertadores, tenho certeza que vai brigar para ser campeão de novo.”
 

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