terça-feira, 29 de janeiro de 2013

''SOBRADÃO'' PRIMEIRO ARRANHA CÉU DO BRASIL

Minas Novas é uma pequena cidade do Vale do Jequitinhonha, distante 543 km de Belo Horizonte e 216 km de Diamantina. Tem o orgulho de possuir o primeiro "arranha-céu" de Minas, um casarão de 4 pavimentos construído em pau-a-pique. Mas não é só nisso que Minas Novas se destaca. Diferentemente de outras cidades e localidades, que mantêm a tradição da Festa do  Rosário, Minas Novas celebra a sua no mês de junho, mais precisamente nos dias 23, 24 e 25, em coincidência com a data da festa de São João. Além do reinado, cujo cortejo é uma atração à parte, a festa em Minas Novas apresenta  duas características que a distinguem das outras: a busca da imagem no rio Fanado, que banha a cidade, e o traslado do cofre, no qual se depositam as contribuições anuais dos irmãos e irmãs do Rosário. A primeira solenidade dos três dias finais da festa que, na verdade, têm início dia 13 (dia de Santo Antônio) com a lavagem da igreja e prossegue no dia 15 com o início da novena, é o traslado da imagem de Nossa Senhora do Rosário. Atrás dos reis do Rosário toda a comunidade se dirige ao Rio Fanado. A comitiva da festa, acompanhado dos grupos folclóricos ligados às tradições da festa, atravessa o rio em busca da imagem que se encontra do outro lado numa pedra. A imagem vem nos braços da comitiva e é entregue ao pároco, que a aguarda do lado de cá. Este profere uma prédica ao público e transfere a imagem ao povo que, daí em diante, a conduzirá à sua igreja.Praticamente todos os participantes fazem questão de carregá-la, nem que seja por alguns segundos. O antigo e pesado cofre, em poder do tesoureiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, é trasladado para igreja no último dia da festa da mesma forma: carregado pelo povo, na cabeça. Na igreja, o cofre é aberto para se conferir o depósito e receber a contribuição dos irmãos. No dia 24 (Dia do Reinado), após a missa solene cantada em latim, rei e rainha do Rosário procedem farta distribuição de doces e quitandas ao público. Primeiramente, duas mesas improvisadas com cerca de 5 a 10 metros de comprimento são postas com doces de diversos tipos, uma na frente da casa do rei e outra na casa da rainha. Vários pratinhos de cerâmica (do artesanato local), guarnecidos por colherinhas de pau (idem), mais outro tanto de vasos da mesma cerâmica com cerca de 10 a 15 quilos de doce, cada um, aguardam o momento da "corrida ao doce". À entrada da comitiva na casa é dado o sinal e, os mais espertos ultrapassam a corda de isolamento e pegam o que podem. Num piscar de olhos, todo o material desaparece da mesa. É o único momento em que se vê atropelo. Depois disso inicia-se a distribuição dos doces ao público. Não há filas e também não há confusão ou briga. Muitos braços se erguem ao alto para receber um potinho com doces, mas a mão que o alcança é respeitada. Ninguém avança sobre quem o apanha. Todos recebem sua porção de doce e muitos voltam para receber mais. Só na casa da rainha da festa cerca de 3 mil quilos de doces foram feitos para distribuir  A polícia nem é vista nas ruas. Não há necessidade. Não há brigas nem bêbados a perturbar o andamento da festa. Também não há o comércio ambulante que fareja festas. As ruas se mantêm limpas e ninguém vê o serviço de limpeza pública. Meia hora depois da distribuição de doces, passamos nos locais e tudo estava limpo, como se nada tivesse acontecido. Como muitas outras cidades do Jequitinhonha, Minas Novas é uma cidade pobre economicamente, porém com muito a ensinar a comunidades mais privilegiadas, como Ouro Preto, por exemplo. Como os provedores da festa em Minas Minas Novas ressaltam em folheto explicativo sobre as tradições, foi em Ouro Preto que surgiu o reinado do Rosário pela iniciativa do negro forro Chico Rei. Entretanto, no município de Ouro Preto quase nada mais há sobre as antigas tradições. Perdeu-se quase tudo e o restante está sendo enterrado agora por obra e graça de alguns padres avessos à cultura.

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