quarta-feira, 4 de setembro de 2013

DEPOIS DE SER AGREDIDO POR MEMBROS DA PRÓPRIA TORCIDA QUE COMANDAVA, TORCEDOR SÍMBOLO CELESTE DEIXA OS ESTÁDIOS


Fubá com camisa laranja, que utiliza nos jogos (Foto: Globoesporte.com / Maurício Paulucci)
Fubá vestido com uma das camisas que usava na
torcida (Foto: Globoesporte.com / Maurício Paulucci)

Um caixote de madeira, uma camisa chamativa e muito amor ao Cruzeiro. Esses elementos fizeram de Alexandre Eustáquio Vieira, conhecido como Fubá, um símbolo da torcida celeste.
 
O comandante dos cruzeirenses no Mineirão nunca assistiu a um gol do time porque sempre ficou de costas para o campo, agitando a torcida. No entanto, os mais de 25 anos como ícone da maior torcida organizada do Cruzeiro não o fizeram imune à violência nos estádios.

Fubá foi agredido por integrantes da própria organizada do clube estrelado. Desde então, não pisou mais nos estádios.
Sempre com o escudo do Cruzeiro no peito, Fubá ficou conhecido por usar uma camisa amarela e ficar de pé puxando as músicas que a torcida cruzeirense acompanhava. Na final do Campeonato Mineiro deste ano, teve uma das maiores decepções da vida: foi agredido e quebrou três costelas. Parte da torcida organizada discordava da postura do líder cruzeirense no estádio, o que Fubá considera uma falta de reconhecimento por tudo que ele já fez pelo Cruzeiro.
 
- Foi na final do Campeonato Mineiro, nos jogos entre Cruzeiro e Atlético-MG. No jogo do Independência eu fui agredido. O pessoal me empurrou, eu caí e machuquei. Eu fiquei na minha até o fim do jogo porque o pessoal não queria que eu ficasse lá. No outro jogo, no Mineirão, que o Cruzeiro ganhou de 2 a 1, mas o Atlético-MG foi campeão, eu estava lá. E os mesmo integrantes me empurraram e eu machuquei. Nesse dia eu quebrei três costelas. Aí eu pensei, quando estava no hospital, que eu fiz tudo pela Máfia Azul e é triste chegar ao ponto de pessoas usando a mesma camisa que eu visto não me reconhecerem e me agredirem. Desde então eu não voltei ao estádio.

Fubá no meio da torcida do Cruzeiro (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal)
Fubá no meio da torcida do Cruzeiro (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal)

Segundo Fubá, o motivo das divergências é uma fissura no comando da torcida organizada. Membros mais novos têm pensamento diferente dos mais antigos. Ele, que afirma nunca ter se envolvido em um briga dentro de estádio, ficou magoado com a falta de reconhecimento dos torcedores.
 
- Eu vou falar aqui o que eu nunca falei antes: sou um camarada que sempre me doei ao máximo para a Máfia Azul, mas a torcida teve uma divisão, divergências entre as diretorias. Eu gostava de fazer meu trabalho, não estou nem de um lado nem do outro. Eu quero que a torcida vá para frente. Mas eu fiquei revoltado porque eu sou uma pessoa que nunca briguei com ninguém. Pode ver na Polícia Militar, nunca tive uma ocorrência no Mineirão.
 
Fubá com camisa amarela, que utiliza nos jogos (Foto: Globoesporte.com / Maurício Paulucci)
O torcedor, no entanto, não largou o futebol. Fubá mantém, em um shopping popular, na região central de Belo Horizonte, uma loja de artigos esportivos e camisas de times de futebol. Mas, apesar de manter o negócio, o torcedor reconhece que sente falta da vibração da torcida cruzeirense. Ele explica que só voltará ao comando da torcida caso os dirigentes da organizada resolvam as divergências internas.
 
- Se eu tiver que voltar eu vou voltar sim, mas o pessoal vai ter que se reunir. Eu sinto falta. Eu queria estar lá passando garra para a torcida. Se eles quiserem que eu volte, eu vou voltar, se não, tudo bem. Chega uma hora que você cansa. É igual um pai criar um filho, levá-lo para a escola, e na hora que o pai mais precisa dele, o filho bate no pai. Eu me senti assim. Eu fiz tudo pela Máfia Azul. Eu tenho que trabalhar, me sustentar, estou com a minha loja e bola para frente.
 
Violência das organizadas
 
O episódio recente da violência entre vascaínos e corinthianos, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, trouxe novamente à tona a discussão sobre as torcidas organizadas. Na briga, foram identificados torcedores do Corinthians que também estavam presentes na tragédia de Oruro, na Bolívia. Durante a primeira fase da Libertadores, corinthianos dispararam um morteiro na direção da torcida San José. O sinalizador atingiu o garoto Kevin Espada, que faleceu. Doze corinthianos ficaram presos por cerca de cinco meses no país boliviano e alguns deles foram identificados na confusão no jogo entre Vasco e Botafogo.
 
Fubá reconheceu e lamentou a violência dentro das torcidas organizadas. Ele relembrou o episódio do estádio Mané Garrincha e explicou que se nenhuma providencia for tomada pelos líderes, as torcidas organizadas estão fadadas à extinção.
 
- Infelizmente tem pessoas que têm a cabeça errada. Eu tenho quase 28 anos de Máfia Azul e nunca fui envolvido em nenhuma ocorrência. Semana passada eu vi no Globo Esporte essa história dos torcedores do Corinthians, daquela briga que teve no Mané Garrincha. Tinha torcedor que estava envolvido com a morte do menino, na Bolívia. Cada um tem a sua cabeça e isso basta do líder da torcida organizada ter pulso firme. Se continuar deste jeito que está, não vai acabar com uma, mas com todas as torcidas organizadas.
 
Para Fubá, torcidas estão fadadas à extinção
(Foto: Globoesporte.com / Maurício Paulucci)
Fubá deixa de ir aos estádio e gerencia loja de artigos esportivos  (Foto: Globoesporte.com / Maurício Paulucci) Ele também explica que é difícil controlar quem se associa à torcida organizada, mas existem medidas que podem ser adotadas para reduzir o índice de vandalismo e violência dentro das torcidas.
 
- O marginal tem cara de gente. Ele pode entrar na nossa torcida ou em outra torcida, nossa rival. Você não sabe o nível daquela pessoa. Mas se a diretoria vê que o cara é mal intencionado, tem logo que suspender ele. Tirar o rapaz para não acontecer o que está acontecendo hoje, que é essas brigas de torcida
 
Parceria com diretorias
 
Para muitos, um dos motivos que alimentam a violência das torcidas organizadas é a aliança com as diretorias dos clubes. No Brasil, muitas diretorias bancam o valor do ingresso e as viagens para os torcedores das organizadas. Fubá garante que não recebia ingresso, mas explica que os presidentes César Massi, Zezé e Alvimar Perrella, além do atual, Gilvan de Pinho Tavares, ajudam a torcida, financiando parte dos ingressos e das viagens de alguns torcedores.
 
- Não é que a gente ganhava ingresso, a gente comprava mais barato. A gente pagava metade do valor para ir ao estádio. Não é todo mundo que tinha condição de comprar o ingresso. O Zezé Perrella naquela época comprava os ingressos e dava para aquelas pessoas, as que carregavam os instrumentos, as bandeiras. Quando tinha jogos grandes, eles sempre ajudavam a gente. Pagavam metade do ônibus, das viagens. O Cruzeiro dava metade e a Máfia Azul dava a outra metade.
 
Nova realidade de Fubá
 
Para Fubá, assistir às gravações sacia a vontade
de torcedor (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal)
Fubá no meio da torcida do Cruzeiro (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal) No Mineirão lotado, Fubá foi, muito provavelmente e por inúmeras vezes, o único cruzeirense de costas para o gramado. No entanto, para ele, ver os gols não é o mais importante. Assistir a partida gravada, ao chegar em casa, saciava a vontade de torcedor. Mas o que motivava mesmo o cruzeirense símbolo é a alegria e a vibração nos rostos dos cruzeirenses no estádio. 
 
- O importante para mim não é ver os gols. Depois eu via em casa, o vídeo que eu gravava. Eu sempre coloquei os jogos para gravar. O bom mesmo é saber que você está passando garra, mesmo de costas para as pessoas. É bonito ver no rosto dos torcedores a felicidade e a vibração. No rosto de uma criança, de um pai de família, de uma senhora. Na hora do gol a alegria dessas pessoas transfere para mim. 
 
Conformado com uma possível aposentaria nos estádios, Fubá quer o título Brasileiro.
- Se eu tiver terminado minha carreira como puxador de torcida, pelo menos que o ano termine com o título do brasileiro 2013.

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