quarta-feira, 6 de março de 2013

RECORDE AQUI A PASSAGEM DE ZAGUEIRO-ARTILHEIRO GERALDÃO EX-CRUZEIRO

Atleta foi revelado na Toca da Raposa I no início da década de 80 e se consolidou com o potente chute de longa distância. Na Europa, ele fez sucesso com a camisa do Porto

Paulo Filgueiras/EM/D,A Press
1986 - Ao lado do colega Ernani, zagueiro Geraldão demonstra descontração na Toca I
As principais características de um bom zagueiro são precisão no desarme, eficiência na marcação e qualidade em jogadas aéreas. Poucos da posição possuem habilidades ofensivas, como em finalizações, chutes de longa distância e em lances que exigem técnica apurada para cabecear a gol. O ex-jogador Geraldão, que teve passagem marcante pelo Cruzeiro na década de 80, é um destes exemplos. Suas potentes cobranças de falta o tornaram conhecido não somente no futebol brasileiro, mas também em clubes da Europa.

Em conversa com a reportagem do Superesportes, Geraldão relembrou os seus primeiros passos como jogador de futebol. Ele conta que chegou ao Cruzeiro ainda na adolescência e em pouco tempo foi promovido ao profissional.

“Cheguei ao clube com 13 para 14 anos. Com 16 já treinava entre os profissionais. Na base eu joguei com o Douglas, Ivan Formiga, Eugênio, Gomes, Eduardo Lobinho, etc. Era uma equipe fantástica. Quando subi para o time principal, estive ao lado de Nelinho, Zezinho Figueroa, Luís Antônio, Eduardo, Joãozinho, Tião (irmão do próprio jogador), entre outros. Foi uma ótima experiência”, disse.

Campeão pelo Cruzeiro e golaço “estilo Nelinho”

Após a breve passagem pelo profissional, Geraldão foi emprestado para o Al-Arabi, do Catar, em 1981. Na época, o clube do oriente médio era treinado por Procópio Cardoso, que solicitou o empréstimo do jogador junto à diretoria do Cruziero. O ex-defensor ficou no mundo árabe até 1983, retornando a Minas Gerais no ano seguinte.

Arquivo EM
Geraldão treina chute na Toca I
O bom momento de Geraldão no Cruzeiro começou a partir de 1984. Foi nesse ano que ele começou a aparecer no time titular, formando dupla, em diversasoportunidades, com Aílton e também Eugênio. O time celeste conseguiu quebrar uma sequência de seis títulos estaduais seguidos do Atlético, fato que até hoje orgulha o ex-zagueiro.

“Tínhamos uma certa raiva do Atlético. Não dos jogadores, mas sim do momento deles. Naquele ano queríamos ganhar de qualquer jeito. O título serviu para lavar a alma e derrubar a sequência deles. Foi importantíssimo”, recordou.

Na decisão do segundo turno do Campeonato Mineiro (os celestes venceram o primeiro), o Cruzeiro venceu o Atlético por 4 a 0 no jogo de ida e perdeu por 1 a 0 no jogo da volta. Por conta de interpretação errônea do regulamento, houve uma tentativa de “virada de mesa” por parte da diretoria alvinegra, mas sem sucesso. O título, porém, só foi proclamado a favor do time celeste no dia 26 de setembro de 1990.

No dia 24 de setembro de 1986, Geraldão fez um gol parecido com o que Nelinho marcou contra a Itália, na decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo de 1978. O lance, no entanto, aconteceu em cobrança de falta, contra o Piauí, pelo Campeonato Brasileiro. Após o chute, a bola fez uma curva impressionante e entrou no ângulo direito, vencendo o goleiro Batista. “Realmente foi um gol parecido com o do Nelinho. Eu sempre o observava nos treinos na Toca I e procurava aprimorar ao máximo. Desde os tempos de base eu já tinha facilidade para bater na bola”, frisou o ex-jogador.

Títulos no Porto e rivais ilustres na Europa

FC Porto
Geraldão jogou no Porto por 4 anos
Geraldão permaneceu no Cruzeiro até 1987, quando conquistou mais um Campeonato Mineiro, novamente sobre o Atlético. Nesse ano ele foi negociado com o Porto, de Portugal, por aproximadamente 1,3 milhões de dólares. O zagueiro chegou à Europa já com o status de excelente cobrador de falta e fez questão de aprimorar a qualidade. Lá ele foi campeão do Mundial Interclubes (1987), do Campeonato Português (1987/1988 e 1989/1990), da Taça de Portugal (1987/1988 e 1990/1991) e da Supertaça Portuguesa (1989/1990 e 1990/1991). Ele recorda que, durante o tempo em que defendeu as cores dos Dragões, enfrentou os melhores jogadores do mundo na época.

“Posso dizer que já tive a oportunidade de enfrentar os melhores jogadores do mundo. Vou citar alguns: Maradona (ex-Napoli), Stoichkov (ex-Barcelona), Romário (ex-PSV), os irmãos Brian e Michael Laudrup (ex-Bayern de Munique e Barcelona, respectivamente), Hugo Sánchez (ex-Real Madrid), enfim. Foram tantos que até fica complicado falar qual foi o mais difícil. Mas são jogadores de muita história e que tinham bastante qualidade”, relembrou.

Frustração por não ter jogado a Copa do Mundo de 90

Uma das maiores frustrações da carreira de Geraldão foi o fato de ele não ter sido convocado para a Copa do Mundo de 1990. Isso porque, no ano anterior, o técnico da Seleção Brasileira era Carlos Alberto Silva e o zagueiro começava a ganhar espaço com a camisa amarelinha. Porém, com a troca no comando por Sebastião Lazaroni, o ex-cruzeirense acabou perdendo espaço e foi preterido no selecionado.

Futeboldeselecoes.com
Geraldão segura flâmula do Brasil
“Eu fiquei muito chateado sim. Posso dizer que foi uma grande frustração. Eu vivia um ótimo momento no Porto e era frequentemente chamado pelo Carlos Alberto Silva. Mas aí, com a chegada do Lazaroni, simplesmente parei de ser lembrado. Ele tinha os 'preferidos', os levou para o Mundial e deu no que deu”, desabafou Geraldão. O Brasil foi eliminado nas oitavas de final após perder para a Argentina por 1 a 0, com gol de Claudio Caniggia.

Ao todo, Geraldão fez nove jogos pela Seleção Brasileira. Ele fez parte do elenco que disputou a Copa América e os Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (EUA) (Seleção Olímpica), ambos em 1987. Na competição nos Estados Unidos, o Brasil sagrou-se campeão e faturou a medalha de ouro.

Na sequência da carreira, Geraldão ainda defendeu o Paris Saint-Germain, da França, e o América do México. Ele retornou ao Brasil em 1993 para jogar no Grêmio. No mesmo ano, se transferiu para a Portuguesa, onde encerrou a carreira aos 30 anos de idade. “Senti que já era a hora de parar. Não me via mais jogando futebol”, contou.

Vida de fazendeiro, treinador, dirigente e “intermediador”

Após o término da carreira, Geraldão foi proprietário fazendas nas cidades de Esmeraldas e Pará de Minas, mas as vendeu com o passar do tempo. Ele se dedicou mesmo foi à carreira nos bastidores do futebol, tornando-se treinador do Ipatinga em 1998 e diretor de futebol no ano seguinte. Era apenas os primeiros passos da agremiação, que após 15 anos se transformou em Betim Esporte Clube.

CARLOS ELLER/Especial para o EM
Geraldão treinou Democrata-GV
Em 2000, Geraldão retornou a Portugal para trabalhar no Marítimo. Durante quatro anos, ele exerceu a função de diretor de futebol e foi responsável por intermediar as chegadas do zagueiro Pepe, hoje no Real Madrid, e do meio-campista Alan, atualmente no Sporting de Braga. “Em Portugal existem muitos jogadores brasileiros. Quando eu trabalhei nos clubes de lá, sempre observei os atletas daqui. E muitos deram certo, como são os casos do Pepe e do Alan”, frisou.

Prestes a completar 50 anos de idade, Geraldão reside em Belo Horizonte, mas diz que ainda indica jogadores para os clubes de Portugal. “Eles sempre entram em contato comigo e eu dou a resposta imediatamente. Já estão acostumados. Indico jogadores não somente para os clubes de Portugal, mas também para o Catar, já que joguei por lá durante dois anos. Tenho bom relacionamento com todos eles”, finalizou.

Geraldão também trabalhou como diretor e técnico do Democrata de Governador Valadares, além de passagens por Porto 'B' e CRB de Alagoas. Hoje ele estuda, por conta própria, a parte tática do futebol e revela ter contato com o atual treinador do Real Madrid, José Mourinho. 

“Costumo assistir aos jogos do Barcelona e de outros times mais fortes e criar esquemas para anular suas principais jogadas. Até converso com o José Mourinho a respeito disso. É uma pessoa sensacional. Quando joguei pelo Porto, ele ainda era preparador físico. Hoje ele merece o lugar que ocupa”, finalizou.

Geraldo Dutra Pereira

Data de Nascimento: 24 de abril de 1963
Local: Governador Valadares (MG)
Posição: zagueiro / Altura: 1,92m

Clubes
Cruzeiro (1977 a 1987); Al-Arabi (1981 a 1982); Porto (1987 a 1991); Paris Saint-Germain (1991 a 1992); Grêmio (1993) e Portuguesa (1993)

Títulos
Campeonato Mineiro (1984 e 1987)
Mundial Interclubes (1987)
Campeonato Português (1987/1988 e 1989/1990)
Taça de Portugal (1987/1988 e 1990/1991)
Supertaça Portuguesa (1989/1990 e 1990/1991)



Seleção Brasileira (1987 a 1989) – 9 jogos e nenhum gol


Títulos
Jogos Pan-Americanos (1987) (Medalha de ouro)

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