sábado, 28 de novembro de 2015

ATLHETICO HYGIÊNCIO 1916, QUEM DIRIA? QUEM IMAGINAVA QUE O ATLÉTICO TEVE DUPLA IDENTIDADE? UMA GRATA SURPRESA, HEIN?

A história dos clubes de futebol são por demais curiosas. Elas caminham em sintonia com a história da formação das cidades e Estados que os clubes fazem parte. Tudo se envolve, pois, o futebol, é parte da tradição e do imaginário popular.       
Recentemente, um assunto no mínimo curioso veio à tona em Minas Gerais. Trata-se do antigo “Club de Sports Hygiênicos”, um clube que, segundo a Revista Vita, em novembro de 1913, era uma “brilhante associação recentemente fundada nessa capital e destinada a ser um ponto chic de reuniões das famílias da nossa elite”.
Este assunto emergiu justamente após o momento que o Cruzeiro resgatou suas tradições populares por meio de uma bela campanha. A entrevista do vice-presidente e a faixa na parte central do Mineirão com os dizeres “Cruzeiro, o time do povo”, despertou sentimentos variados. Principalmente pelo lado dos torcedores do Atlético de Minas, que até então, alimentados por boa parte da imprensa do Estado, se imaginavam como a única “massa” da cidade, mesmo com toda a ordem mundial estabelecida e concreta mostrando o contrário. 
Logo o ódio que os atleticanos mineiros nutrem pelo Palestra/Cruzeiro desde a década de 1920 voltou à ativa. Veio o desespero: “Se o Cruzeiro é de fato e comprovadamente o time do povo, o que nos restará, já que discutir futebol com eles não dá?”  É o que se imagina raciocinado pelo estilo atleticano mineiro de ser. Ou quem não se lembra do “nós não gostamos de títulos, gostamos de torcida”. Pois e agora, quais as origens desta torcida e clube? O atleticano mineiro foi esvaziado pelo time do povo. Vive agora uma de suas maiores crises existenciais. Perdeu o sentido. Houve, este ano, um fenômeno nas redes sociais. Uma popularização do debate sobre as origens dos clubes na web e nas ruas. O interesse pela história e origens dos clubes ganhou boa parte dos debates entre as torcidas. E eis que, como resultado disso, de forma surpreendente, emergiu a história do Club de Sports Hygiênicos.
Mas quem é este tal de Hygiênicos afinal de contas? Pelo que consta em documentos e pesquisas, foi um clube da alta elite de Belo Horizonte fundado em 1913, que se instalou no Parque Municipal. Alguns jornais da cidade inclusive criticaram o fato da ocupação de um espaço público para o uso restrito da elite sem benefício geral para o restante da população, sobretudo os mais pobres. Porém, ainda assim, sobretudo pelo poderio econômico, o Hygienicos conseguiu se apoderar do parque público. 
Mas esta não é definitivamente a maior polêmica. Esta reside sim no fato de que, para a surpresa de muitos, o Hygienicos, como consta em alguns documentos que circularam na rede, se fundiu em 1916 com outro clube da então jovem capital mineira: o Atlhetico Mineiro. Tal fato até então poderia passar despercebido, mas para quem conhece a rivalidade em Minas Gerais, já percebeu que os atleticanos mineiros adoram, talvez por falta de argumentos mais plausíveis, tentar transformar a mudança do nome do Cruzeiro, que antes era Palestra Itália, em motivo de chacota, desconsiderando o fato que na verdade os cruzeirenses muito se orgulham desta mudança, já que foi a forma que o clube encontrou para sobreviver a II Guerra Mundial quando grupos xenófobos tentaram destruí-lo.
           Por este e outros motivos, agora, os cruzeirenses questionam as origens aristocratas do rival perante uma campanha de boa parte da imprensa local que em anos tenta transformar a torcida do Atlético Mineiro em massa. Porém, no que se refere as origens, podemos perceber que, além de ser um clube de raízes elitistas e aristocratas, ainda teve a capacidade de se fundir com outro mais elitista e aristocrata ainda!

Tal situação pode explicar, e muito, os motivos de, a princípio, o Palestra Itália ter sido um clube exclusivo para a colônia de imigrantes italianos. É que muitos clubes da cidade pareciam não querer se misturar com aquela “gentalha” pobre de imigrantes. Resultado que parece lógico: o Palestra ganhou os corações do povão de Belo Horizonte, justamente, por ser o clube que não compactuava com uma elite possivelmente muito opressora. São causos do nosso futebol!
Atlhetico Hygienico, caramba! Por esta nem mesmo a massa inventada pela imprensa mineira esperava! Imaginem dois vovôs, um cruzeirense e outro atleticano mineiro, contando para seus netinhos a história dos clubes! No mínimo cômico, seria o vovô atleticano mineiro dizer que é massa, mais suas origens são aristocratas e higiênicas, enquanto o vovô cruzeirense dirá que seu clube nasceu do povo e se tornou a maior potência futebolística e maior paixão idolatrada por todas as classes sociais do Estado.
A história, por vezes, machuca. Entende-se.

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