sexta-feira, 3 de abril de 2015

PAIXÃO DE CRISTO

Espetáculo em Brejo da Madre de Deus, cidade pernambucana, já foi visto por 3,5 milhões de pessoas em 48 anos de encenação no maior teatro aberto do mundo

Marcelo Loreiro / Divulgação
Paixão de Cristo de fama e tradição
Quando chega a Semana Santa, na pacata Brejo da Madre de Deus, a 180 km de Recife (PE), os moradores pegam suas cadeiras e se juntam nas calçadas de casa, mais do que o de costume, para ver o movimento único de milhares de carros que passam na rua. O município recebe nessa época gente de vários lugares do país em busca da famosa encenação da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo. A tradição do espetáculo, realizado há 48 anos, atrai cerca de 70 mil turistas por ano, número que ultrapassa o de habitantes, que é de 48,5 mil. Desde 1968, já foram mais de 3,5 milhões de espectadores.
Não importa que a narrativa da morte e ressurreição de Cristo já tenha sido repetida centenas de vezes e que todos já saibam o final decorado. A emoção de ver a história de amor, perdão e entrega de Jesus em cenários que imitam a cidade onde tudo ocorreu há dois mil anos renova a fé até dos mais incrédulos. São nove palcos grandiosos e realistas que reproduzem montes, palácios e o Templo de Jerusalém, distribuídos em 100 mil m2 (1/3 da área murada de Jerusalém antiga), cercados por uma muralha com 70 torres.
Marcelo Loreiro . Divulgação
Paixão de Cristo de fama e tradição
O público percorre as cenas em três horas de espetáculo de pé. Mas cansaço não atrapalha a vontade de ficar o mais perto possível dos 55 atores - muitos famosos globais - e 500 figurantes (maioria moradores da cidade) que compõem o teatro, para ver a saga de Cristo desde a pregação no “Sermão do Monte” até a sua ascensão aos céus. De tão envolvidos, muitos xingam o personagem de Judas quando ele trai Cristo. Durante a caminhada de Jesus carregando a cruz, a plateia consegue acompanhar a Via Sacra e também se sentir parte da história. “A Justiça de Pilatos condenou Jesus. Se quereis provar a sua inocência apressai-vos”, repete a voz no som.
O momento da crucificação leva muitos a chorar, principalmente, os que conseguem ouvir os gritos de Cristo quando os soldados batem os pregos nas suas mãos, mesmo sem ver o ator no chão, apenas pensando no ato real. Essa é a única hora que se escuta o artista e não a gravação nas caixas de som – necessária para atingir os mais de 10 mil espectadores.
Marcelo Loreiro / Divulgação
Paixão de Cristo de fama e tradição
Sob os olhares atentos e tecnológicos de centenas de smartphones, Cristo mostra sua paixão pelo povo. O homem crucificado representa não uma derrota, mas um gesto para salvar a humanidade. A Ressurreição faz todos vibrarem como em uma vitória ao verem uma luz azul (um drone) subir até o céu estrelado de Nova Jerusalém.
“A história pode ser interpretada no contexto de hoje, faz a gente refletir as negações que ainda fazemos a Jesus”, contou a funcionária pública Roseli Gomes, 52, que foi a primeira vez ao espetáculo quando tinha 15 anos e na terceira visita ainda se emociona. Não é a toa que as pesquisas de opinião realizadas em cada temporada mostram que cerca de 40% do público retorna para assistir a Paixão pelo menos mais uma vez.
Serviços
A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém começou no Domingo de Ramos e termina agora no Sábado de Aleluia, amanhã. Os ingressos custam entre R$ 80 e R$ 120, dependendo do dia, com meia-entrada.
E xistem ofertas de excursões em ônibus de turismo e vans, que partem de cidades turísticas como Porto de Galinhas . O complexo de Nova Jerusalém também tem a Pousada da Paixão. Os hóspedes assistem à peça e atuam como figurantes com o elenco.
Para os turistas estrangeiros é possível acompanhar a peça ouvindo o áudio em inglês, espanhol ou francês. Cadeirantes também possuem um lugar reservado na plateia e acompanhamento de funcionários no trajeto de um palco a outro.
Jesus “superstar”
Com ricos figurinos, o espetáculo reúne atores famosos nos principais papéis. O Cristo, que este ano é interpretado por Igor Rickli, já foi encenado por artistas como Thiago Lacerda e Fábio Assunção. Com esses últimos, as mulheres ficavam mais animadas com o ator do que com a história. Outra novidade desta temporada é a atriz Paloma Bernardi no papel de Maria e Humberto Martins como Pilatos, a lém de atores pernambucanos da Sociedade Teatral de Fazenda Nova. “ A parte mais importante do meu laboratório para viver esse personagem são minhas orações. É Maria quem tem que me inspirar ”, disse Paloma.
“ Eu acredito nessa história. Pode parecer piegas, mas ela é incrível. Nunca vivi uma experiência dessa dimensão”, contou Rickli. Para Humberto Martins, Nova Jerusalém é, sem dúvida, o mais importante e o de maior repercussão “ Já participei de outros espetáculos ao ar livre com grandes públicos, mas nada comparado a esse”.
Passeio turístico
Quem vai ao espetáculo pode aproveitar para conhecer Caruaru, a capital do Agreste, que fica a cerca de uma hora de distância, e curtir a Feira de Artesanato e a cultura nordestina. Mas em Nova Jerusalém, na praça de alimentação também há muitas comidas regionais e forró. “A gente sempre vem e aproveita para passear nas cidades do interior. Já assisti outras paixões mas esse cenário é belíssimo e te leva à religiosidade ”, afirmou o médico Marcelo Carrilho, 53, que foi com a família. A filha, Ana Clara Simões, 10, prestava bastante atenção em tudo e gostou mais da “hora da ressurreição”.
História
O idealizador Plínio Pacheco chegou a vila de Fazenda Nova, em Brejo da Madre de Deus, em 1956, e teve a ideia de construir um teatro que fosse uma pequena réplica da cidade de Jerusalém para que nela ocorressem as encenações da Paixão. Em 1968, foi realizado o primeiro espetáculo. Hoje, o filho de Plínio, Robinson Pacheco, é o coordenador geral. 

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